Por Dora Monteiro –
Antes de ser politico, Tião Bocalom é matemático. E é fazendo contas que ele explica o motivo de insistir no lema produzir para empregar:
“Rio Branco consome 90 toneladas de arroz por dia, a R$ 5, o quilo. O que representa R$ 450 mil, por dia, que saem de nossa cidade para outros Estados. Em um ano são mais de R$ 200 milhões. Se a gente somar com o que gastamos com feijão, tomate, repolho, etc esta conta chega a R$ 500 milhões por ano, o que vai gerar emprego e renda em outros Estados”, comenta o prefeito.
Em seu décimo dia de mandato, ele concedeu esta entrevista destacando que neste ano não vai aumentar o seu salário como fizeram vários prefeitos do interior, que vai antecipar a data do pagamento dos servidores para o dia 25 ou dia 23 e que sua equipe de técnicos já está fazendo estudos para abrir a caixa preta das empresas de transporte coletivo. “O usuário não pode continuar a ser tratado deste jeito”, argumenta, acrescentando que, muito em breve, a população vai constatar que a mudança valeu a pena.
– Por que o senhor vai antecipar o pagamento dos servidores?
Sempre paguei no dia 25 e até no dia 23 quando era prefeito de Acrelândia. O Estado paga no final do mês, as empresas privadas pagam no fim do mês. Daí fica aquele tumulto, aquela correria para fazer compras. Antecipando o pagamento, o servidor vai ter mais tranquilidade para fazer as compras, vai evitar aglomerações, favorecer o distanciamento social e a prevenção da Covid.
– O senhor também disse que não vai aumentar o seu salário. Está satisfeito, ao contrário dos colegas do interior?
Eu sabia quanto ia ganhar quando decidi me candidatar. Além do mais, tem uma Lei Federal que proíbe aumento de salários neste ano. Então, se eu aumentar o meu próprio salário, que moral vou ter para negar um reajuste para os servidores? Entretanto, não acho justo o prefeito da Capital ganhar o mesmo que um prefeito do interior. Mas, vamos fazer um estudo e, se for possível, aumentamos no ano que vem. Se não vamos até o fim do mandato sem reajustes.
– Quais são os primeiros problemas que estão exigindo soluções imediatas?
Estamos com graves problemas de segurança na Ceasa. Só tem um muro na frente, de modo que estão acontecendo muitos furtos de mercadorias e de veículos durante a noite. No fim do ano passado roubaram todos os pneus de um caminhão e outros bens dos produtores que permanecem no local fora do expediente de trabalho. Mas hoje temos lá uma equipe de trabalho comprometida com o produtor rural e que gosta de atender bem ao público. Tenho fé que logo vai começar a melhorar assim como a segurança, a saúde, a educação e os principais gargalos da administração de Rio Branco.
– Durante a campanha o senhor também bateu bastante nas deficiências do transporte coletivo. O que vem fazendo para melhorar?
Eu nunca aceitei financiamento das empresas de ônibus quando era permitido. Se aceito ajuda financeira fico com as mãos amarradas. Por isso tenho liberdade para exigir transparência no processo tarifário. Os motoristas, por exemplo, nunca foram chamados para participar da fixação das tarifas. Eu não acho justo que Rio Branco, cujas linhas têm média de 12 km, tenha tarifas iguais às de Curitiba, onde as linhas de ônibus têm média de 42 km ou de Manaus que tem 32 km. Além do mais é uma frota de ônibus velhos, sem ar condicionado, sem conforto algum. A RBTrans está fazendo estudos e vai exigir uma readequação. Se não se enquadrarem vamos fazer outra licitação. Os usuários não podem ser tratados como estão.
– Seu lema “produzir para empregar” finalmente foi o vencedor. O que significa exatamente este programa?
Quando você pergunta por aí quais são as principais necessidades da população em Rio Branco vão dizer que é saúde e emprego. O Estado não tem perna para empregar todo mundo, então cabe à iniciativa privada solucionar este problema. Nos últimos 20 anos a política econômica do Acre foi a florestania. O Estado não apoiou o homem do campo, o pequeno produtor rural, o produtor familiar. Então nós compramos tudo o que comemos de outros estados. Só de arroz consumimos nove toneladas por dia, ou seja, a R$ 5 o quilo, são R$ 450 mil por dia, ou mais de R$ 200 milhões por ano. Se juntar aí o que compramos de feijão, tomate e outros produtos agrícolas que poderiam ser cultivados aqui, constatamos que mandamos meio bilhão de reais por ano para outros estados. Se investirmos na produção agrícola, geramos emprego no campo e na cidade, pois um trator quebrado depende de mecânico, de borracheiro, de combustível. Enfim, é todo uma cadeia movimentando a economia.
– Por que o Acre ainda não produz o seu próprio feijão com arroz?
Como eu disse, porque o Estado abandonou a agricultura familiar nos últimos 20 anos. Hoje nós temos gente morando em propriedades de 50 hectares que precisa vir à cidade para comprar arroz, feijão e até ovos. Tem produtor rural vivendo de bolsa família. Eu acho isso péssimo. O modelo de florestania empregado nos governos anteriores inviabilizou os pequenos. Nós até temos médio produtores cultivando soja e milho, mas temos que focar nos pequenos, na agricultura familiar, para que possamos produzir pelo menos o que consumimos no mercado interno. Então este é o nosso lema: Produzir para empregar. O agronegócio é nossa saída, o mesmo que o governador Gladson Cameli defendeu e que lhe deu a vitória. Então, Gladson e eu temos o mesmo foco. Tenho fé de que a população será recompensada.