Foto Ana Julia com o quibe de macaxeira

Quibe de macaxeira: a iguaria genuinamente acreana que celebra a miscigenação de povos e sabores

Quibe de macaxeira, mistura de tradições árabe, indígena e nordestina, tornou-se símbolo da identidade e do patrimônio culinário do Acre

A miscigenação de culturas que formou o Acre também deu origem a adaptações gastronômicas que se transformaram em patrimônio culinário de um povo que lutou para ser brasileiro. Um dos melhores exemplos é o quibe de macaxeira, criação que une tradição árabe, saberes indígenas e criatividade nordestina.

Inspirado no tradicional kibe árabe, trazido ao Acre pelas famílias sírio-libanesas que chegaram ao Estado durante o ciclo da borracha, o prato ganhou novo sabor ao ser preparado com a macaxeira, raiz cultivada e consumida há séculos pelos povos originários da Amazônia. O resultado foi uma iguaria única, que conquistou o paladar dos acreanos e também dos visitantes.

Foto do Quibe de Macaxeira
O quibe de macaxeira, criação que une tradição árabe, saberes indígenas e criatividade nordestina. (Foto: Vitória Souza/Secom)

A versatilidade da macaxeira

A macaxeira — também conhecida como mandioca, aipim ou maniva — é base da alimentação de milhares de famílias no Norte do Brasil. Sua versatilidade permite a criação de uma infinidade de delícias, doces e salgadas, como tucupi, tapioca, farinha, bolos, mingaus e aperitivos. Dentro da série de reportagens do Festival da Macaxeira, o quibe recebe destaque como um dos preparos mais emblemáticos dessa raiz tão especial.

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Encontrado em bares, lanchonetes, cafés, mercados e até em vendas ambulantes, o quibe de macaxeira é feito com massa da raiz cozida e amassada. (Foto: Vitória Souza/Secom)

Encontrado em bares, lanchonetes, cafés, mercados e até em vendas ambulantes, o quibe de macaxeira é feito com massa da raiz cozida e amassada, geralmente recheada com carne moída e frita até ficar dourada. Uma releitura criativa do prato do Oriente Médio que ganhou alma e sabor amazônicos.

O sabor que move profissões

No Mercado do Bosque, tradicional ponto gastronômico de Rio Branco, o quibe de macaxeira é uma das estrelas do cardápio. Ali, o quitute costuma ser acompanhado de molho de pimenta feito com tucupi, combinação que ressalta ainda mais o sabor regional.
O salgadeiro Elildo Ferreira, que há quase três décadas trabalha no ramo, explica que a prática trouxe experiência e técnica para lidar com a raiz.

Foto do Salgadeiro Elildo Ferreira
O salgadeiro Elildo Ferreira, que há quase três décadas trabalha no ramo, explica que a prática trouxe experiência e técnica para lidar com a raiz. (Foto: Vitória Souza/Secom)

“Há 27 anos trabalho assim, faço variedades de panificação e trabalho com a fabricação de salgados. Eu faço quibes de macaxeira e de arroz aqui no Mercado do Bosque para várias lanchonetes. No caso do quibe de macaxeira, é higienizar bem a raiz, colocar para cozinhar. Depois de cozida você amassa até virar uma massa, tempera com um pouco de sal, tira aqueles talinhos e então é só rechear com carne moída e fritar em óleo bem quente. O quibe de macaxeira e de arroz são os mais vendidos aqui no Mercado”, relatou.

Gastronomia miscigenada

O historiador José Wilson Aguiar lembra que a culinária acreana é reflexo direto da mistura de povos que ajudaram a formar o Estado. “Essa miscigenação de sírio-libaneses, turcos, índios, nordestinos, negros, essa mistura cultural, podemos dizer que originou o nosso quibe de macaxeira, assim como outras comidas. O Acre é um pedaço do Ceará, um pedaço do Brasil, vieram pernambucanos, maranhenses, paraibanos, e aqui se uniram aos índios nativos da Amazônia. Esse casamento cultural e gastronômico perdura até hoje”, destacou.

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O historiador José Wilson Aguiar lembra que a culinária acreana é reflexo direto da mistura de povos que ajudaram a formar o Estado. (Foto: Marcos Araújo/Secom)

O sustento de muitas famílias

Além de parte da identidade cultural, o quibe de macaxeira também é fonte de renda para muitas famílias. A permissionária Marilândia Holanda, mais conhecida como Mary, vende salgados há mais de 15 anos em seu quiosque na Praça do Relógio, em Rio Branco.

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A permissionária Marilândia Holanda, mais conhecida como Mary, vende salgados há mais de 15 anos em seu quiosque na Praça do Relógio, em Rio Branco. (Foto: Vitória Souza/Secom)

Emocionada, ela afirma que o quibe de macaxeira é parte essencial do sustento de sua família. “É daqui que tiro o meu sustento e da minha família. Quando comecei vendia só salgado, suco e refrigerante, hoje temos uma grande variedade de coisas de café da manhã e lanche, mas o salgado ainda é o mais vendido, sobretudo o quibe de macaxeira e de arroz”, comemora.

Receita do quibe de macaxeira

Ingredientes da massa
• 1,5 kg de macaxeira
• 3 colheres de sopa de manteiga ou óleo
• Sal a gosto
• Recheio de sua preferência (tradicionalmente carne moída)

Modo de preparo

1. Cozinhe a macaxeira com um pouco de sal até ficar macia.
2. Escorra e, ainda quente, amasse com garfo ou passe em um moedor.
3. Acrescente a manteiga ou o óleo para dar consistência.
4. Com a massa, molde bolinhos na mão, fazendo um furo no meio para colocar o recheio.
5. Feche os bolinhos e, se desejar, empane em farinha de rosca ou de trigo.
6. Leve ao congelador por 15 minutos antes de fritar.
7. Frite em óleo bem quente até dourar.

O quibe de macaxeira é mais do que um prato: é uma expressão viva da miscigenação cultural do Acre, símbolo de resistência e criatividade culinária, que une passado e presente no sabor da raiz mais versátil da Amazônia.

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O quibe de macaxeira é mais do que um prato: é uma expressão viva da miscigenação cultural do Acre. (Foto: Val Fernandes/Secom)

Essas e outras iguarias feitas a partir da macaxeira poderão ser encontradas no ‘2º Festival da Macaxeira: da agricultura familiar ao agronegócio’, que acontecerá entre os dias 26 e 28 de setembro, no Horto Florestal. A mudança de espaço vem acompanhada de um novo formato em comparação com a edição anterior, que foi realizada na Praça da Revolução.

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O ‘2º Festival da Macaxeira: da agricultura familiar ao agronegócio’, que acontecerá entre os dias 26 e 28 de setembro, no Horto Florestal.(Foto: Val Fernandes/Secom)

A proposta deste ano foca na valorização da produção local e da cultura regional. Ao contrário da primeira edição, não haverá atrações de nível nacional. Toda a programação artística será composta exclusivamente por talentos da própria região. Além das apresentações culturais, o festival terá uma programação voltada para a tecnologia e para o fortalecimento do setor produtivo.

Estão previstas palestras e oficinas especialmente voltadas aos produtores rurais, com temas ligados a diversas cadeias produtivas, como a mandioca, o café, o milho e outras culturas que desempenham um papel importante na economia do Acre.

As atividades acontecerão tanto no período diurno quanto noturno, o que permitirá maior flexibilidade para que o público participe em diferentes momentos do dia.

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