
O mundo das letras e dos números é democraticamente acessível a todos logo nos primeiros anos de vida por meio da alfabetização. Por uma série de fatores, alguns ficam para trás, mas nunca é tarde pra recomeçar e aprender a voar pelo universo do conhecimento. Quer saber como isso é possível? Conheça a história de mulheres que voltaram a estudar e recebem apoio do município para retomar este sonho.
Em uma das salas de conhecimento da escola municipal Monte Castelo estudam pouco mais de 30 alunos, entre homens e mulheres, que estão sendo alfabetizados por meio do programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Cada um tem uma história de vida que justifica o atraso na alfabetização, como a da empregada doméstica Márcia dos Santos. Ela tem 39 anos, morou no seringal Macauã até os 17 anos. O seringal fica a quase dois dias de viagem pelo rio Iaco partindo do município de Sena Madureira. Um lugar bem longe das escolas da cidade, por isso Márcia não conseguiu ser alfabetizada quando criança.

“O que dificultou foi assim: meu pai morava na zona rural, e eu não tinha acesso à escola, aí foi na época que eu casei muito cedo, fui cuidar da minha família, dos meus filhos, mas o meu sonho sempre foi em estar aqui dentro, (sabia) que um dia eu ia conseguir, e agora eu tenho a oportunidade de estar aqui hoje na sala de aula, apreendendo”, conta a aluna que sonha alto, quer ir bem além da alfabetização e fazer uma faculdade de Jornalismo.
O diretor da Escola Monte Castelo, Paulo Henrique, diz que histórias como a da Márcia são comuns no programa de alfabetização para jovens e adultos. Ele relembra que a escola foi percebendo que muitas mulheres desistiam antes da metade do ano, porque não tinham com quem deixar os filhos em casa. Foi aí que a escola decidiu oferecer este apoio.
“A gente via que muitos alunos queriam estudar, mas tinham a necessidade de trazer os filhos. As crianças iam pra sala, mas chamavam muita atenção. Começamos a atender essas crianças fora da sala para que atrapalhassem e os pais pudesses continuar os seus estudos. Uma assistente, a professora Thaís Chaves, é responsável pelo cuidado com as crianças promovendo brincadeiras e atividades diversas utilizando o espaço da biblioteca e o pátio da escola.
Já as alunas Gleisa e a Carmelita têm que fazer um esforço maior, porque suas crianças ainda são de colo, e em boa parte da aula elas têm que amamentar e dar aquele consolo que só a mãe sabe, mas sem perder o foco no quadro e no caderno. “Eu me sinto mais à vontade com o Guilherme aqui, porque pra deixar ele em casa fica mais difícil. Eu trago ele toda vez que eu venho”, conta.
Para a professora Jane Cleide fazer parte desse momento de recomeço das mães é gratificante, especialmente quando os alunos eles descobrem alguma palavra, algumas sílabas por si mesmos. Na hora do intervalo, os pais e as crianças se reencontram no refeitório. É servido para eles um jantar.
A equipe de apoio e o cardápio são disponibilizados pela Secretaria de Educação do município, além da doação da farda e materiais pedagógicos. A ideia e o suporte para o atendimento das mães e das crianças fazem parte do incentivo da prefeitura para o fortalecimento da educação na capital.
Prefeito visita a escola e conhece os alunos da EJA

O prefeito Tião Bocalom visitou a escola. Ele avalia que o programa reconecta as pessoas com o mundo do conhecimento e iniciativas como esta não têm preço. “Eu fiquei muito feliz. A escola já propicia também um ambiente para os filhos das pessoas. A nenê de 4 meses fica com a mãe na sala de aula, mas também vi que lá na sala os filhos maiores podem ficar muito à vontade. Dá mais tranquilidade ao pai, a mãe, pra continuar estudando e aprendendo. Pra poder vencer na vida, nada melhor que o estudo”.
Na ocasião, a aluna Márcia pode também realizar o sonho de conhecer o prefeito e agradecê-lo pessoalmente. “Agradeço muito por toda a força que o senhor deu pra gente”.