Motorista supera vício e passa em concurso público com apoio da Prefeitura de Rio Branco

Anderson Melo: “Era uma vida infernal” (Foto: Evandro Derze/Assecom)

Nada na vida do carioca Anderson Melo Siqueira (42) foi fácil. Nascido de uma mãe de apenas 11 anos, ele foi adotado por uma família no Rio de Janeiro e passou a sofrer maus tratos e abusos. Aos cinco, fugiu de casa sozinho em direção a São Paulo e ao ser levado de volta para casa, foi duramente repreendido pela mãe adotiva. “Era uma vida infernal”, disse Anderson.

A infância turbulenta, que contou com seis expulsões escolares, cobrou um preço na vida de Anderson, que conheceu as drogas muito jovem para tentar fugir daquela triste realidade.

Na adolescência, decidiu sair de casa de vez e passou a percorrer o Brasil e o mundo como mochileiro. Após temporadas no Paraguai e no México, onde trabalhou como motorista, ele passou a morar na Colômbia, ficando lá por longos 15 anos. Parte do dinheiro que recebia dos trabalhos que fazia era gasto para alimentar o vício em entorpecentes.

Decidiu voltar ao Brasil no ano passado e depois de passar por Rondônia e Amazonas, resolveu conhecer Rio Branco. Daqui não saiu mais. “O Acre sempre ficou na minha mente. Duas horas de diferença, o preconceito do Brasil sobre ele etc, mas o que me surpreendeu mesmo foi a hospitalidade das pessoas”, enfatizou.

Sua chegada à capital acreana não foi fácil. Ele teve seus pertences roubados enquanto tomava banho em um banheiro público. Foi então que recebeu a orientação de procurar o Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua, conhecido como Centro Pop, ligado a Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SASDH).

Lá, ele se alimentou por mais de um mês e chegou a trabalhar como motorista por algumas semanas. Depois, foi encaminhado à unidade de acolhimento Dona Elza, administrado pela Prefeitura, onde recebeu tratamento contra o vício. “Tudo começou aqui”, lembra.

O apoio dado pela SASDH a Anderson foi um dos pontos de virada na vida do carioca, que já está há sete meses longe das drogas, após uma luta incansável contra a abstinência. “Buscava muito refúgio na leitura. Também caminhava bastante dentro da unidade de acolhimento. A ideia era ocupar a mente. Era um conflito muito grande. O teu cérebro te chama para a droga”.

Decidido a mudar de vida, ele passou a estudar e foi aprovado no concurso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto não assume o posto, Anderson vende amendoins industrializados e não quer parar por aí. Atualmente, estuda para passar no concurso do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e se dedica ainda a conquistar uma vaga no curso de Direito da Universidade Federal do Acre (Ufac).

Anderson Melo: “Se a pessoa acredita e segue veementemente àquilo que ela quer, é possível, sim, sair do mundo das drogas e mudar a realidade dela” (Foto: Evandro Derze/Assecom)

Anderson faz questão de manifestar gratidão pelo apoio prestado pela Prefeitura. “No Acre as pessoas foram mais humanas. Rio Branco me deu ênfase, me deu aquele tapinha no pintinho para ele começar a piar sozinho. Isso me deu uma força muito grande. Das 23 capitais, Rio Branco está entre as cinco em qualidade de acolhimento, amizade, compreensão e maneira de suportar as pessoas”.

O motorista e futuro servidor do IBGE já tem Rio Branco como lar e afirma que no futuro pensa em contar seu exemplo de superação para outras pessoas. “É possível sair do mundo das drogas. E quero mostrar isso sendo um canal de palestra. Tenho essa vontade de falar para muitas pessoas, famílias e comunidades. Se a pessoa acredita e segue veementemente àquilo que ela quer, é possível, sim, mudar a realidade dela”, concluiu.

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